Eu ia postar, mas…. esqueci.. Parte I

Ah, a memória! Um campo de estudo magnífico que leva maridos e mulheres a brigarem ao redor de todo o mundo desde os primórdios da civilização (ou não). Imagine a jovem Maria, grávida de Jesus, pede à José que busque Pão, Água, e algumas frutas. Maria grávida, com algumas dores espera por horas até que José volta com Pão e Frutas.

image– Cadê a água, José? – Diz Maria

– Aiihh…. Esqueci da Água! Sabe o que é? Quando eu comprei as frutas eu ouvi um pessoal falando de um boato que um doido ai vai começar a mandar matar crianças e…

– VOCÊ ESQUECEU A MINHA ÁGUA? Não adianta vir com suas desculpas, você sempre inventa alguma coisa para justificar essa sua memória! O Problema é que você não presta atenção em nada e….

E assim vai. Se isso nunca aconteceu com você, com um amigo, um primo, um vizinho, tenho certeza que você ao menos já ouviu falar de uma história semelhante. image

Bom, isso faz a gente querer entender um pouco melhor a memória, não? Qual a diferença real entre a mulher que sempre chega na frente da geladeira e pensa “o que eu ia pegar mesmo?” e aquela que decora a sequência de cartas de um baralho inteiro em menos de 2 minutos? O que é a nossa memória, afinal?

Foi justamente buscando essas respostas que o Jornalista Joshua Foer escreveu o livro Moonwalking with Einstein, contando sua jornada como um cara normal que sempre esquece onde deixou as chaves do carro, enviado para cobrir o campeonato de Memória Americano e Europeu, seu treinamento, e no ano seguinte a sua vitória como Campeão Americano de Memória.

UAU!! Como isso é possível? Estudar a memória e como ela funciona (como sempre) é o começo para entender como otimizá-la.

Primeiro temos que entender que a memória é uma coisa viva. Afinal, como se forma uma memória? Conjuntos de Neurônios se organizam em determinada parte do cérebro, se unem e formam uma memória. Nós tendemos a achar que as memórias são como “fotos”, imutáveis retratos da realidade, confiáveis e evidências decisivas. Na verdade as memórias são mais como uma peça de Teatro, cada vez que a acessamos nós a “revivemos” e incluímos nela alguma informação a mais de acordo com nossa realidade atual (ou apagamos outras) de modo que aquela sua memória preferida de infância, que você se lembra todo aniversário há mais de 20 anos, possivelmente já foi tão alterada que pouco lembra a realidade Alegre Isso coloca sérias dúvidas sobre testemunhas oculares, não é?! E isso também torna possível o plano da Pílula do Esquecimento.

imagePara quem conhece os neurônios, sabe que uma das coisas mais legais a respeito deles é que eles se ligam a vários outros formando uma rede densa e complexa com inúmeras possibilidades. A beleza disso para as memórias é que uma coisa se liga a outra, meio que deixando pistas, e as vezes você começa a pensar na casa da sua avó, ai lembra que ela tinha um cachorrinho que você adorava… qual o nome dele mesmo? Sucata! Isso te faz lembrar que seu tio João vende sucata no ferro-velho dele, e ele comprou um motor velho de geladeira do seu pai uma vez… aliás, seu pai precisava passar na sua faculdade e pegar o seu diploma da Pós para você levar ao seu chefe! Lembra que ele tinha dito que te daria uma promoção depois que você se formasse?! Então é isso ai, agora você vai receber um aumento e vai poder ir para a Itália! Ahhhh, o coliseu!!!! … Mas espera ai… como diabos a gente saiu da casa da Vó, para o Coliseu? Como você não sabe que no seu cérebro está tudo associado você solta um “ahh… é porque é tudo coisa velha!” Alegre

A memória representa anos e anos de evolução. Se você é um Criacionista não vai levar isso em consideração, mas grande parte das evoluções que tornaram (ou encaminharam) nosso organismo no que ele é hoje se deram no período Paleolítico, há mais de 2 milhões de anos atrás! Isso serve para refletirmos em várias áreas, como memória, alimentação, comportamento, entre outros. No futuro falaremos mais de alimentação e comportamento, mas agora vamos focar na memória!

Bem, nessa época começaram a aparecer as primeiras espécies de HOMO (nós somos o Sapiens). Agora, imagine por um momento o dia-a-dia na Idade da Pedra Lascada (ou até mesmo da Polida) e se pergunte: “o que era importante aos nossos ancestrais lembrarem?” Seria o telefone da Pedrita? Nope.

Nessa época a memória essencial para a sobrevivência era a de onde você viu algum alimento, quais plantas eram comestíveis ou não, se aquele movimento nos arbustos era bom ou ruim, entre outros. Saber essas coisas significava a diferença entre viver (e passar seu código genético adiante) ou não. Darwin explica.

Você sabia que em uma fração de segundos nós decidimos se uma pessoa é uma ameaça ou não? Em uma fração de segundos reconhecemos o movimento na relva como uma onça espreitando, ou que tribos indígenas conseguiam reconhecer quais plantas eram comestíveis, curativas, venenosas ou não sem nunca ter escrito um livro a respeito?

Nossa memória é linda. É ótima! Mas talvez não seja a ideal para o mundo atual. Nós mudamos de um paradigma onde precisávamos lembrar e reter conhecimento para outro onde o conhecimento é externo e nós meramente o acessamos quando necessário. Afinal, para que lembrar os primeiros dígitos da sequência de Fibonacci se você pode simplesmente pesquisar no Bing agora mesmo?

O que os Homo Sapiens fazem muito é achar que os acontecimentos da sua vida e da de seus pais são o Natural, é a História. Pois saiba que 200 anos de história da sua família representam menos de 0,01% da história de nossa espécie e seus ancestrais. O que nós fizemos nos últimos 20.000 anos pode muito bem ser uma coisa nada natural para a nossa espécie e isso geralmente causa problemas que não conseguimos entender.

“… bom… beleza então… nossa memória é um lixo e o jeito é viver como homens das cavernas ou se conformar…” Não.

Agora nós sabemos um pouco melhor do que criou nossa memória e algumas coisas que a influenciam. Conseguimos identificar os erros e, assim, desenvolver métodos para mitigá-los ou, se possível, eliminá-los! E é exatamente isso que veremos no próximo post.

imageOutra coisa importante da memória é que esquecer também é essencial. Em estudos genéticos feitos com ratos, foi identificado e isolado o Gene responsável pela memória. Cientistas criaram o Super Mouse da memória (para mais, leia o Livro de Michio Kaku) com uma memória superior. Isso significa que ele dominava tudo mais rápido, lembrava os caminhos dos labirintos como ninguém, uma maravilha!

Maravilha… tirando o fato de que ele lembrava de tudo muito bem. Se um dia ele esbarrou em um fio e levou um choque, ao simplesmente ver um fio ele já lembrava do choque. Mas a lembrança era tão real que ele paralisava, como se estivesse revivendo o choque.

A Natureza é realmente uma força maravilhosa. Talvez a seleção natural tenho decidido que nós somos os mais aptos a sobreviver. Lembramos bem de nossos amores, nossas bençãos. Esquecemos onde deixamos as chaves, os nomes de alguns primos distantes, mas também esquecemos nossas ofensas, nossos traumas. Nós lembramos o suficiente para vivermos, e esquecemos o suficiente para sermos felizes. Uma ótima medida!

5 comentários em “Eu ia postar, mas…. esqueci.. Parte I”

    1. Não me esqueci de sua cerveja cara, estou tentando resolver o turbilhão de coisas que está acontecendo por aqui para ficar mais tranquilo.
      Mas estou considerando condicionar a entrega da cerveja ao final dessa série sobre memoria 😉

      abraço

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  1. Ótimo texto!!! Me fez parar para pensar, e de fato a mente humana é incrível. Ao final das contas esquecer algumas coisas nem sempre é ruim (como por exemplo, aquele dia péssimo no trabalho…). Mas ter essa visão de que sempre podemos trabalhar a mente para lembrar o que precisamos, isso é fenomenal!

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    1. Isso mesmo Tom, a memória pode ser treinada para lembrar melhor algumas coisas, basta sabermos alguns truqes de como ela funciona!

      E você, ainda lembra da lista de compra que fizemos naquele jogo da memória?! 😀

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