Conversas Cruciais – Histórias e Fatos (parte II/III)

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Semana passada eu contei um pouco sobre o que aprendi no curso “Conversas Cruciais”da VitalSmarts. O princípio do “Cérebro Reptiliano” e seus efeitos sobre nós em momentos de tensão são muito importantes, mas acho que faltou algo do mais básico antes. Por exemplo, o que é uma Conversa Crucial?

O Curso identifica como Crucial, uma conversa que tenha 3 fatores em conjunto:

1 – Muita Emoção

Como por exemplo quando alguém vai te fazer uma crítica e aquela emoção de “eu preciso defender minha dignidade e imagem” fala mais alto do que sua consciência no “é… eu errei”.

2 – Algo importante em Jogo

Novamente sua reputação, ou o futuro de um projeto, relacionamento, entre outros.image

3 – Opiniões Divergentes

Meio óbvio aqui… se não houver opiniões divergentes, não tem o que dar erro… ou tem?

Agora que sabemos identificar o que é uma Conversa Crucial, vale observarmos algo fundamental sobre o ser humano… primeiro, as vezes tendemos a achar que nossos problemas são maiores que os dos outros. Segundo, a gente raramente enxerga os próprios erros…

Agora lembra do Cérebro Reptiliano reagindo a uma ameaça?! Sua inteligência tão limitada quanto a de um gorila? Então… nesse momento você perde também a capacidade de self awareness… ou “auto percepção”. Isso significa que, em uma discussão, a pessoa sempre vai lembrar dos tapas que você deu nela, mas raramente dos que ela deu em você.

Por isso que essa segunda parte é, na minha opinião uma das mais importantes. Para evitar problemas de Percepção, uma vez que ela é falha, nós precisamos pensar nos FATOS. Eis então o tópico principal, a diferença entre Fato e Histórias.

Vou dar um exemplo prático que inventei de uma história que eu ouvi aqui na minha da empresa de um amigo. Lá há três formas de contratação: Estágio, Terceirizado (3º), e Efetivo.

imageQuando eu era Um estagiário ouvia dos 3ºs as maiores barbaridades a respeito de discriminação, algo que nunca comprovou quando eu virou ele mesmo um 3º… mas enfim, havia essa história:

Fulano (3º) estava na copa, e ciclano (Efetivo) veio na direção dele, como se fosse falar algo… ai olhou o crachá (de 3º) do Fulano e virou as costas e foi embora porque viu que ele era 3º…

História 1: Ciclano é um filho da #%p& que não se mistura com 3ºs…  eu sofro sendo um 3º discriminado!

Bom, vamos agora separar a história dos fatos e reanalisar isso:

Sujeito 1 está parado. Sujeito 2, aparentemente vai falar com 1 mas, após olhar para o crachá, parece mudar de ideia.

Na primeira história, Sujeito 2 é um desgraçado. Mas será essa a única explicação plausível? Com base nos fatos, vamos pensar em outra história:

História 2 – Ciclano acabou de ser promovido de 3º para Efetivo e está com dúvidas de como funciona o novo sistema exclusivo para Efetivos. Ele vai falar com o conhecido Fulano, mas ao ver o crachá lembra-se que Fulano é 3o e não conhece o sistema. Para evitar que Fulano ache que ele está “se gabando” falando de sua contratação ele muda de direção e vai direto para o RH.

Pronto! Temos ai, para o mesmo fato, duas histórias completamente opostas. E o mesmo fazemos em nossas vidas todos os dias. Nós temos a mania idiota de sempre esperar que as pessoas que nos amam tomarão as piores atitudes possíveis.

No curso os autores aconselham: “Pergunte-se: Por que uma pessoa razoável, racional, e decente faria algo assim?” Essa pergunta te força a contestar sua história maluca. “Eu conheço ciclano… porque ciclano faria algo mesquinho, soberbo, e arrogante assim?“

O Primeiro passo para resolver nossos problemas de comunicação é reconhecer que erramos, e que perdemos nosso raciocínio precioso nos momentos de raiva. O Segundo é pensar nos FATOS, não nas HISTÓRIAS.

Quando precisar ter uma conversa sensível com alguém, comece com os FATOS, depois conte sua História. Pergunte ao outro qual a história dele, e encoraje a argumentação. Algo como:

Fulano – Nossa Ciclano, reparei que você abriu a boca para me falar algo, mas desviou o olhar para meu crachá e se calou. Fiquei me perguntando o porque você teria feito isso.. cheguei até a pensar que talvez você não quisesse falar comigo por causa de algo no meu crachá… há algum problema? O que te fez mudar de ideia?

Ciclano – Ah…. Desculpa Fulano se você percebeu… infelizmente eu ia perguntar algo sobre o telefone da empresa, mas lembrei que só Efetivos tem telefone… desculpa se eu te constrangi de alguma forma. Meu intuito quando eu mudei de direção foi justamente o de evitar isso. Realmente eu lamento.”

Smiley piscando 

Imagine quantos problemas de comunicação você poderia ter resolvido com essa técnica ao invés de uma longa briga e dolorosa reconciliação?

Abraços,

6 comentários em “Conversas Cruciais – Histórias e Fatos (parte II/III)”

    1. Haha, bem observado! De fato o que ajuda mesmo aqui é a prática. O primeiro passo é conhecer o conceito, assim você “se pega no flagra” quando estiver cometendo um dos erros. Com o tempo a gente vai se treinando e melhorando bastante!

      Beijos,

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    1. De fato as vezes é triste ver a quantidade de vezes que as pessoas tomam atitudes baseadas em Histórias e arruinam relacionamentos. Vou colocar umas tags para ajudar a busca do texto, como “por que todo mundo me odeia?”, “como manter uma conversa” 😛

      Abraços,

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  1. Caro DaniMart, muito oportunas e esclarecedores suas colocações! Realmente nos fazem reconhecer que nós mesmos somos os criadores das situações em que nos encontramos, sejam agradáveis ou desconfortáveis. Por um lado pode parecer frustrante, mas por outro lado, nos retoma o poder de construir diferente baseado no que eu realmente quero. Quando somos capazes de, através da humildade, reconhecer que o tempo todo estamos “contando histórias” nas nossas mentes (tirando conclusões precipitadas, fazendo inferências e misturando opiniões com fatos – assim como o simples e eficaz exemplo que você citou), podemos questionar e desafiar esses pensamentos a fim de checar se correspondem à realidade ou se estão “coloridos/modificados” pelas minhas crenças e preferências. Tenho o privilégio de poder ser facilitador desse treinamento aqui no Brasil pela Vital Smarts e cada vez que estudo ou facilito o treinamento fica mais claro alguns momentos na minha vida que posso aplicar e melhorar ainda mais, construindo relacionamentos mais sinceros e confiáveis, e consequentemente conseguindo os resultados que almejo. Estou aguardando a 3a Parte pra saber mais das suas reflexões. Espero que esteja sendo útil no seu dia a dia profissional e pessoal! Abraço. Rodrigo Lolato.

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    1. Olá Rodrigo! É um prazer imenso receber um elogio de um palestrante do curso 🙂
      Concordo plenamente contigo quanto ao “pode parecer frustrante”, mas afinal todas dificuldades na vida podem ser vistas sob duas perspectivas: Desafio (blocker) ou oportunidade, não é mesmo?!
      Eu particularmente adoro saber a ciência por trás dos comportamentos… se entendermos o processo podemos então sugerir melhorias…
      E a sensação de liberdade proporcionado é maravilhosa!
      Obrigado pelo comentário, e me manda um email quando estiver perto do CENU, te pago um café e podemos argumentar à vontade!

      Abraços,
      Daniel Bitencourt Martins
      Bitencourt@outlook.com

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